quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cristina.

Ela fechou o livro e os olhos.
Ficou no escuro, acompanhada apenas por um cigarro.
Domesticava suas dores, ao menos durante o dia, mas a noite...se entorpecia de passado e tateava expectativas menos mórbidas para o amanha.
Sofria calada com seus calos.
Acreditava em Deus, mas andara outrora de mãos dadas com o diabo.
Não se contentava com o óbvio, sua vida até ali lhe dera passaporte apenas para as coisas deslocadas.
Mas, entre choros escondidos, manteve-se firme. Administrou seus vícios, cancelou romances, cultivou descrenças e distribuiu indiferença. Era réu e juiz de si. O que não podia absolver, era absorvido pelo cansaço e quiçá esquecido.
Não era fácil ser ela, mas não desejava ser outro.
Naquela noite, percebeu ferrugens em seu escudo. As aflições tomarem conta do quarto, passaram a ser sua companhia. O cordão umbilical com o passado pesou como uma ancora, como de fato o era.
Tantos passos dados...mas onde estava o chão? Não sentia o caminho, não sabia pedir ajuda, orou deitada porque não sabia ajoelhar.
Pediu perdão a si por ter sido sempre demasiadamente forte.
Seu choro invadiu tudo, inundou o escuro, virou luz.
Olhou para as faltas, almejou não estar ali, mas “ali” era ela.
Era ela o escuro, era ela o choro, era ela a solidão...
Era ela descascando a razão... e descobrindo a razão de sua tristeza.

domingo, 10 de outubro de 2010