sábado, 10 de agosto de 2013

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ao Ego

Foi um amor suado, nada tranquilo, desesperador eu diria...e por conta disso, por várias estações me perguntei: será amor?
Pergunta em vão, é óbvio que não obtive resposta e ainda que tivesse uma, seria seguida por outra pergunta: "se é amor, por que dói?" Ou "Se não é amor, por que permanece?"
Ocupada demais em tentar buscar respostas, vivia sob a inescrupulosa ditadura do ego.
E o ego...coitado, quando vazio se satisfaz com qualquer coisa...e quando cheio, não se contenta com nada.
Mas, já  que somos obrigados a lidar com ele, melhor fazermos as pazes.
Então, Sr. Ego, independente de qual seja o seu tamanho, ofereço-lhe gratidão, pois através de ti conheci o que há de pior e melhor em mim e, ainda que eu  não saiba diferenciar uma parte da outra, me dou o direito de me aceitar do jeito que sou, estando o senhor satisfeito ou não, pois é notório: todas as vezes em que tentei satisfaze-lo eu acabei acreditando em mentiras óbvias, contentei-me com migalhas alheias quando oferecia-lhes um banquete, ofereci abraços aos braços fechados e aceitei tudo em troca de nada.
Foram dias terríveis, onde me via enclausurada em comportamentos repetitivos porque para satisfazê-lo, eu acabava tendo as mesmas atitudes esperando resultados diferentes, crendo que estava sendo coerente com o amor que supostamente existia, visto que o "amor" é o álibi perfeito para aceitarmos qualquer dor, (ledo engano), era só o grito condescendente da carência.
Tentei virar a página, rasguei as folhas, joguei o livro fora, mas o conteúdo parecia perpétuo. 
Me odiei por conta do amor.
Me amei depois, por odiar o mesmo amor.
Energias gastas inutilmente. 
Quanto mais escrava de ti, Sr. Ego, mais algoz de mim eu me tornava. Por horas incansáveis tentando preenche-lo, mais vazia eu ficava.
E o amor, coitado...quanto de culpa fora atribuído a ele, e mesmo que não tenha sido amor, foi vivido em desespero não pelo excesso, mas pela falta de amor (próprio).
Mas, ainda que eu tenha chegado onde cheguei pelos reflexos desfocados do seu espelho, ainda que o senhor tenha me julgado incapaz por não preenche-lo com um padrão-de-beleza-perfeito, e mesmo com todas as noites de insônia que o senhor me obrigou a ter por consequência nos seus desejos mimados, ainda assim...façamos as pazes, até porque agora, se quiseres entrar novamente numa batalha, o senhor perderá.




Mulheres que choram!

Tenho percebido um comportamento atípico nas mulheres em Florianópolis: elas choram dentro do ônibus! 
Várias vezes fui surpreendida por lágrimas alheias, nos ônibus ou terminais...as mulheres se desmascaram, se desprendem de qualquer pudor ou vergonha e se protegem com aquilo que para muitos é sinônimo de fraqueza: a sensibilidade.
Fico imaginando os milhares de motivos que a fazem chorar e me toma uma vontade de carregá-las no colo, abraçá-las por tempo indeterminado, mas contenho e me calo. Por dentro grito. De alguma maneira choro com elas, também peço socorro às vezes, (às vezes = uma vez a cada cem anos!)  mas não descarto as algemas enferrujadas que me prendem ao "bom senso" e permito apenas uma lágrima tímida, acompanhada de um bocejo para mascarar o choro.
E eu nem as conheço, talvez jamais nos encontraremos novamente, algumas delas nem reconheceria a face, visto que apenas ouço seus soluços, mas não vejo seus olhos...não tenho ideia de quais sejam os motivos que a façam chorar naquele instante e talvez nem saiba dos meus. Mas me arranha um sentimento de piedade e inveja, por serem elas tão autênticas. Particularmente, defendo uma hipótese: a autenticidade mora naquele lugar onde o julgamento alheio não faz nem cócegas, um lugar confortável que só alcança quem divide o mesmo status quo. 
A ciência não decidiu ainda se somos seres mais semelhantes pelas composições genéticas ou únicos pelas outras milhares de atribuições que carregamos, como escolhas, sentimentos e desejos, o que nos faz acreditar que "ninguém é igual a ninguém"... Quer dizer, somos idênticos, porém únicos! Quem sou eu, com minhas milhares de mitocôndrias e neurônios, constiuida muito mais por perguntas do que respostas, contrariar a ciência da psicologia, mas...o que de fato nos torna exclusivos? Nossos desejos, sentimentos, escolhas, medos, percepções não nos tornam únicos, mas  talvez a maneira de vivê-los. E quanto mais percebo o mundo, mais me deparo com a previsibilidade comportamental. Saber se comportar dentro de uma sociedade, em respeito à moral e ética, não significa necessariamente termos as mesmas maneiras de expressão. A autenticidade, ainda que por muitos seja notada como loucura, é uma arte. E como toda arte, ainda que louca e incompreendida, a autenticidade é o que de fato torna o ser exclusivo.
Portanto, às mulheres que choram no ônibus, nos terminais, nos açougues, nas boates: fica aqui o meu muito obrigada! Porque nos choros seus e aprendi a respeitar mais os meus.