segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Prece

Aquilo parecia dor.
O riso era de desespero. Cortava a vida em pedaços e percebeu que nunca saboreou nada.
Banalizava o amor porque nao queria carregar o peso da entrega. Dispunha de armas e as vezes as usava contra si. Era demasiado humano, mas enjaulado, como quase todo humano.
Aquilo parecia dor. mas não chorava.
A lágrima poderia arranhar o vidro da sua frieza.
Era tão desprotegido que já nem sentia mais medo de nada.
Fechou os olhos e fez uma prece.
Ajoelhou-se sob sua máscara e implorou misericórdia pro destino.
Parecia dor, mas era de fato, amor.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

o diabo de cada um - por aline martinelli

Descia a ladeira assoviando como quem despeja no ar todo o peso de ser quem era.
Era, não é mais. Cansou daquilo.
Acordou disposto ou devidamente revolto, seu álibi era a sua infelicidade.
Cuspiu antes e depois do café com gosto de ontem.
Não queria mais tempos idos.
Dispensou conselhos, desanalisou possibilidades, arrancou o insulfilme dos olhos, tirou o mofo das incertezas e foi ser qualquer outra coisa que não aquilo.
A total falta de importancia até mesmo a si, lhe deu o solavanco para a subida ou a descida, sabe-se lá, não importa.
Andou.
Não foi pragmático, nem esperançoso, apenas liberto.
A total falta de amor proprio ou alheio o fez  absolutamente livre.
O amor questiona, a dor oprime, a felicidade dá trabalho, entao despediu-se de tudo ou nada. Nao tinha sabor, não tinha do que se esquecer, não tinha tecla de pause, nada tinha movimento.
criou o seu andar, fez o seu passo, arranhou o seu tempo, brincou de Deus, e encontrou o diabo, no espelho.
riu, gargalhou, disse meia dúzia de palavrões e desceu a ladeira assoviando.
Assoviava com graça 'a desgraça. Nao acreditava mais na descrença que quase o fez jazida.
No caminho, apertou a mão de mais um diabo e praguejou: "me aguarde roendo as unhas".