quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Já fui Careca.

Já fui careca.

Já transei com mulheres com e sem amor, e até hoje não decidi qual das vezes foi melhor.
Já deixei de fazer muita coisa pelo medo, mas fiz tudo o que podia por amor.
Já desisti antes de começar. Já comecei e desisti depois. A diferença entre um e outro é que a desistencia antes do começo é fracasso, e a que vem depois que se começa é limite.
Já passei grande parte do meu tempo tentando agradar aos outros, até que um dia passei a tentar me agradar, hoje eu sei que era bem mais fácil agradar aos outros.
Já cultivei insegurança tentando colher qualquer coisa, e consegui. Aliás, o que mais se colhe quando se cultiva insegurança, é “qualquer coisa”.
Já emagreci pela ansiedade alheia e engordei pela minha.
Já cobicei a mulher do próximo e da próxima.
Já invejei Deus e o Diabo, e da massa que fica entre um e outro, metade eu já tive vontade de esquartejar em 40 pedaços e a outra de fazer sexo por 40 dias.
Já cometi os sete pecados capitais, só lamento não serem 14.
Já trapaceei, mas sempre comigo mesma.
Já tive muita, muita, muita, muita, muita, muita pena..., até dos outros.
Já fui facilmente boa tanto quanto má, e descobri que o difícil é ser justa.
Já fingi ser adulto quando criança. Continuei fingindo.
Já vi a vida me avisando que eu estava morta.
E seja lá o que realmente eu seja ou tenha feito, ás vezes acho que me constituo mais pelo o que ainda não fiz. Porém, do já feito, acho que a que mais gosto é ter sido careca.




quarta-feira, 28 de setembro de 2011

auto-encontro

Vasculhava os passos dos outros para encontrar os seus.
Vinha de um passado calado, olhava para tras e so via as suas pegadas, continuou
tropeçando em solidao. Não tinha par...e nem parede, mas não era livre.
Fugir tambem é prisäo.
Fugia do que? Já estava morto.
... Qualquer movimento o matava, todo pulso lhe era uma ameaça, todo riso era direito alheio e nunca o dele.
Encarava a morte todo dia, o dificil era lidar com a vida.
Naquele dia resolveu viver de verdade, ate a ultima gota, pegar o dia com as mäos.
Sentou no meio fio, descascou um picole e chorou... urrou...se inundou de si e decidiu ter mais cores que aquele semáforo sobre sua cabeça

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

é só isso.

Era pra ter sido rápido, mas permaneceu, coagulou.
Nao foi digno, mas perfeito.
Entre o inicio e o fim, teve so esse negocio de ego que fodeu com tudo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

amor enriquece o homem

Falou de todo o coraçao, colocou-se a disposiçao do amor e perdeu-se...
Nao se deu o esperado, o "amor só é AMOR no sonho", pensou desiludido.
Foi ter com o mestre a quem sempre lhe dissera que o amor enriquece o homem:

- Mestre, seu filho da puta, o amor me arruinou, sangrou, me tirou de mim e me ocupou com solidao e bebida. O amor enriquece????

E o mestre com toda a sapiencia que lhe é singular:

- Filho, quantos iguais a voce sao tomados por tamanha estupidez e auto-menosprezo? Ja imaginou quanto o dono do bar enriqueceu?

E o danado saiu calado, foi tomar mais um gole.

play-boi

A vida tava lá, tava sim, de alguma forma eu sentia, mas não alcançava.

Sentia pelos olhos dos outros, pelo apelo da convenção.
Sentia pelo cheiro do after shave made in italy.
Pelo desprezo ao porteiro made in Bahia.
Pelo conversível que me levava a todos os lugares...e a lugar nenhum.
Um dia adoeci, por excesso ou extrema falta de mim, acho que nunca saberei.
Adoeci pelo desejo vagabundo, pelo vestido sem etiqueta, pelo cheiro de monange de Maria Rachel.
E Maria fora a única paixão que não aceitava cartão de credito.
Tentei quase ser romântico, usava até “por favor, Maria, engome minha camisa”. Não adiantou, Maria era desprovida de dinheiro, mas entorpecida de fidelidade e se dizia honrada em ser “pobre, porém honrada”.
Não tive escolha.
Tinha que te-la. Fizemos um acordo, meu pau e eu. Eu tomaria as doses diárias de um escocês pra criar coragem e ele não falharia na hora “h”.
Naquele dia, como se soubesse o que eu planejava, estava ela absurdamente livre, o que me tornava mais preso a ela.
Seu vestido florido e surrado, o coque preso por uma bic, transpirava aquele hidratante barato que entrava em meus póros e enchia meu pau com todo sangue do meu corpo.
Peguei por trás com toda a força daquilo que nem era mais desejo e sim necessidade. Subi seu vestido e baixei a calcinha (e o pau latejava como uma inflamação), não falhou, nosso acordo estava de pé.
Tampei-lhe a boca, mas imaginava seu gemido, quando senti todo o formigamento vindo de dentro, perdi a pressão, eu estava no paraíso, eu estava VIVO quando me dei conta que estava morrendo.
O golpe foi certeiro. Atravessou o fígado.

Cai.
Maria estava linda com olhos de quem vence. Puxou a faca e deu mais sete golpes. Cada facada, um orgasmo.
Morri com sorriso no rosto.

Vi meu sangue, olhei Maria, ambos me fizeram sentir gente, ao menos uma vez.







terça-feira, 24 de maio de 2011

pé de culpa

Foi passando de mão em mão até chegar em mim.

Chegou traumatizado, quase intocável.
E eu que buscava a pureza de alguma coisa, algo absurdamente novo, assim como
uma pergunta sem resposta, cheirando a coisa fresca.
Não era. Tava carregado de tempos idos.
Me engolia como se eu fosse a cura, e eu... perdido dentro de um casulo, fui muleta de nós, contentando-nos com o óbvio, enquanto almejávamos asas. Elas não vieram.
“Asas custam caro”, pensávamos enquanto a letargia consumia nossos ossos, nosso ócio.
O casulo ficou pequeno.
Construímos um circulo.
Morremos de cansaço construindo paredes. “Asas custam caro...”
Morremos de cansaço dando os mesmos passos.
Morremos de cansaço em não fazer nada.
Morremos com o cheiro podre que vinha de dentro.
Morremos com o assédio da felicidade alheia.
E um dia...cansamos de morrer... e passamos a nos culpar.
E do gole da culpa que tomamos todos os dias, resta sempre essa gota que a gente cultiva pra crescer mais culpa.

quinta-feira, 10 de março de 2011

quando eu me como.

Fica tudo misturado, parece que enlouquece, mas talvez seja só mais uma pitada de mim que eu desconheço.
Nem tem receita, me degusto e as vezes cuspo, assim é.
Por vezes indigesto, engulo com pressa para nao saborear de fato, é apenas mais um pedaço que me devoro sem pretensão.
Vem esses pedaços de mim que eu nao gosto, mas devoro, pra me ver sim naquilo que eu escarro, pra me enriquecer com o vômito daquilo que também me contém.
sou só eu me experimentando, sem escrupulos, me desfragmentando com aquilo que a convenção chama de talher, eu chamo de coragem.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

manual da felicidade

Parto da premissa que, um dia, em algum lugar, a humanidade absorveu a ideia de felicidade.
Aí, fodeu.
A IDEIA nao vinha sozinha, trazia um manual.
Diga-se de passagem, um manual de facílimo acesso, televisionado, impresso, propagado de boca-a-boca, exposto desde o menor panfleto até o maior out door.
Não importa a midia, o conteúdo foi apreendido, e por milênios a crença tem mantido a humanidade ocupada nos procedimentos necessarios.
A primeira página do referenciado manual é destinado à micro parcela da humanidade que, por determinação dos criadores, inexplicavelmente já tem acoplados em si um parafusinho chamado "sorte" e por conta dele, as pessoas que integram esse grupo NÃO NECESSITAM DESTE MANUAL, uma vez que vieram ao mundo desprovidos de pobreza e correspondem ao padrão físico exigido-aceitável. (vide" padrão-físico-aceitável" no anexo II, pag. 15, no referido manual), ou vá até a banca mais proxima de tua casa e compre qualquer revista que tenha uma mulher gostosa na capa.
Porém, a maior parte da humanidade é desprovida de tal parafuso e portanto, torna-se o público alvo para o qual o manual foi destinado:
REGRAS GERAIS:

-1. SEJA FELIZ
1.1 - adquira o maior número de bens possíveis (ostente, e mostre ao mundo o teu poder);
1.2 - continue adquirindo ( compre um pedaço da lua, mostre aos extraterrestres que o universo é apenas mais uma possibilidade de investimento imobiliário);

1.3 - seja impecavelmente atraente-lindo-magro (caso tenha dúvidas neste item, disponibilizamos outras referências bibliograficas/iconográficas em  outros semi-manuais encontrados em midias impressas e/ou audio-visuais)

1.4 - encontre um(a) parceiro(a) ideal (é imprescindivel que você siga corretamente os passos anteriormente citados para nao ter dificuldades neste item)

1.5 - construa uma familia perfeita com filhos-advogados-médicos-sócios-da-NASA (para maior visualização deste item: vide propagandas de qualquer margarina ou refrigerante)
*nota importante: nao se esqueça, "caso você tenha errado em algum item, o teu filho é uma nova oportunidade de acerto, portanto muita atençao na hora de adestra-lo".

1.6 - seja humilde (faça doações! afinal você precisa continuar rico-feliz-sem-culpa)
*dica: doe 10% do teu salário à igreja, os pastores também tem direito a "um lugar ao sol", mas seja esperto: doe àquele que já é proprietário de grande parte do sistema solar, pois mesmo que você nao seja rico o suficidente para garantir o teu lugar no céu, ao menos poderá permutar uma vaga na Via Láctea em teu período de férias.

 1.7 - conecte-se a uma rede social (Calma! Não é necessário criar grandes laços amigáveis, afinal você ja adquiriu o video-game-Ipode-Iphone-Ifode de ultra-mega-blaster geração para te fazer companhia, a rede é apenas um veículo para que você possa compartilhar a tua  FELICIDADE e  assim propagar   a ideia deste manual.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

[só-lido comigo: solidão]

Parece um golpe, uma armadilha do destino, mas é só solidão.
E a solidão é só uma companhia que a gente teima em denegrir.
É o vazio cheio de si.
É a hora do choro sincero, do espelho exalando um único cheiro, da letargia brigando espaço com a inércia.
Que seja ela, a solidão, "infinita enquanto dure", visto que é ela, e somente ela, que pode me levar até mim.
Porque no OUTRO, eu encontro a consequencia e nao a essência.
Eu quero EU em mim, não mais naquele.
Não para que eu me baste, mas para que se besta for, que seja assim concluido pela total presença de mim e nunca pela ausência de ninguém.