sábado, 4 de dezembro de 2010

Puta

- Quanto que é o programa?
- 150.
- Faz tudo?
- Com anal é 200.
- Beija na boca?
- Com beijo na boca é 1500.
- Ô loco! Por que a boca é bem mais caro que o cú?
- Porque eu estipulo meu preço de acordo com o esforço que eu tenho que fazer.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Espelho, espelho meu...

você poderia ter me amado, mas teu pedestal nao deixou.
Essa coisa coisa que você sobe em cima e te leva a enxergar as pessoas com uma lupa é apenas um escudo brincando de segurança.
Desça daí, permita-se ser fraca o bastante para ser suficientemente humana.
A força tá na lágrima,  na sangria do corte que precede a cicatriz.
Mas voce plagiou algum Deus, e como todo deus, errou...porque almejou ser mais do que meramente humano e acabou virando único...e por ser tão ímpar morreu sem nunca ter tido a chance de perdoar o teu espelho.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

quando o diabo ama.

Encarou o cabra com a alma sangrando, sua raiva afiava a peixeira, mas não precisaria de lamina, suas palavras metralharam tudo. Era o macho indo ter com aquele que roubara-lhe a fêmea, ou fora ela quem permitiu-se perder? Já não mais importava.
Já tinha vivido um pouco de tudo na vida, quiçá viera ter no mundo a função de cobaia, vai ver que foi deus que testara o corpo do pobre pra ver ate onde o cabra macho agüenta.
E ele agüentava. Era só carne, osso e desafio, era feito disso.
Sobreviveu, talvez por promessa de antepassados, que também não tiveram melhor sorte e  deixaram-no sozinho, com cheiro de morte, mas o danado vingou.
Mas lá foi ele, matou algumas vezes e morreu tantas outras, e sempre acordava acreditando que o sol que lhe dava sede era o mesmo que norteava o caminho.
E, num desses caminhos, vem aquele que ate então não conhecia, nem nunca tinha ouvido falar. Vem aquele que lhe deixa sem sono e é muito maior que o deserto. Por vezes vazio, mas de um vazio tão grande que o preenchia. O cabra não entendia nada. Era só aquela maldita sensação de felicidade que culminava depois em solidão, porque nunca se contentava. Era aquela incapacidade de soletrar o sentimento, de esvaziar de novo o coração e viver somente pra si. Não conseguira.
Num desses caminhos encontrou a praga que o levou ao desespero mais do que toda a fome ou desgraça que tenha lhe sucumbido a vida e, que se ate hoje tais desgraças lhe preservaram o pulso foi somente por uma questão de crença “cabra macho não se mata”, mas fora difícil agüentar ate aqui.
E um filme passara-lhe pela cabeça, só viu miséria e cactos e o pior deles era esse que lhe arranhava a alma. Esse que veio através do cabelo negro e corpo magro, da pele morena e um olhar que lhe desnudava. Esse desejo trazido por ela e que por causa dele, pela primeira vez, o cabra viu-se sozinho, mesmo tendo passado a vida toda só. Agora era solidão da falta. E o cabra chorou.
Chorou alto, gritou desesperadamente àquele que a levara embora, apontando-lhe o dedo na cara: “...e se um dia tu fizer ela chorar e nem se quer carregar a lagrima dela com cuidado pra modo de não deixar a maldita lagrima cair no chão e fazer nascer tristeza, eu juro que vou atrás de tu e lhe arranco a vida e ... trago a minha de volta...”

E saiu no galope o cabra macho, e ate hoje ele chora.




terça-feira, 30 de novembro de 2010

Nunca mais limpei teu cinzeiro.

Queria ver em ti um pedaço que eu não gostasse, assim...um defeito intolerável, não esses defeitos que você tem, esses são aceitáveis e pra mim eles só existem como um capricho, sei lá se feito por Deus ou por alguma coisa que te construiu assim: com tanta coisa boa e jogou uns defeitinhos por cima só pra não ficar “anti-humano”.
E quem me inventou me fez assim: feita não sei com que material, mas que se desmancha só em ouvir teu nome.
Ahh..e quem inventou a paixão tava mesmo desmiolado. Que coisa mais doída, mesmo que seja boa, ainda assim dói. Essa paixão dá pra gente um monte de fantasma de verdade. Não sai nunca, persegue, tira a gente da gente.
É ruim. E certos dias, que nem hoje, que eu tava só andando, acompanhada de um pedacinho de mim, quando alguém na rua gritou teu nome.
(é como se alguém tivesse espancado meu estomago) Cadê meu passo? Minha saliva?.
Tenho saudade infinita, alias aqui dentro é só o que tenho. Esquisito isso: aquilo que me preenche é justamente tudo o que me falta.
Mas...era só teu nome. Apenas gritaram na rua e eu fechei os olhos nesse instante, tive medo de que fosse você assim perfeita, linda, andando na mesma calçada.
Eu sabia que não era você, mas quem sabe, talvez fosse.
Fechei os olhos rapidinho. Numa mão torci os dedos, fazendo uma figa e pedi que fosse você, e na outra mão eu pedi que não fosse.
Coisa chata essa paixão. Faz a gente chorar que nem bobo no meio da rua...só porque ouvi teu nome...
Mas não era um nome qualquer, era o TEU nome...que me trouxe o teu jeito de olhar, de andar, de sorrir, de falar, de mexer no cabelo, de sentar sobre as pernas, de levar o cigarro ate a boca, e abraçar os joelhos enquanto assiste TV, de dar dois tragos e apagar pra fumar daqui a pouco...

...E eu nunca mais limpei o teu cinzeiro.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cristina.

Ela fechou o livro e os olhos.
Ficou no escuro, acompanhada apenas por um cigarro.
Domesticava suas dores, ao menos durante o dia, mas a noite...se entorpecia de passado e tateava expectativas menos mórbidas para o amanha.
Sofria calada com seus calos.
Acreditava em Deus, mas andara outrora de mãos dadas com o diabo.
Não se contentava com o óbvio, sua vida até ali lhe dera passaporte apenas para as coisas deslocadas.
Mas, entre choros escondidos, manteve-se firme. Administrou seus vícios, cancelou romances, cultivou descrenças e distribuiu indiferença. Era réu e juiz de si. O que não podia absolver, era absorvido pelo cansaço e quiçá esquecido.
Não era fácil ser ela, mas não desejava ser outro.
Naquela noite, percebeu ferrugens em seu escudo. As aflições tomarem conta do quarto, passaram a ser sua companhia. O cordão umbilical com o passado pesou como uma ancora, como de fato o era.
Tantos passos dados...mas onde estava o chão? Não sentia o caminho, não sabia pedir ajuda, orou deitada porque não sabia ajoelhar.
Pediu perdão a si por ter sido sempre demasiadamente forte.
Seu choro invadiu tudo, inundou o escuro, virou luz.
Olhou para as faltas, almejou não estar ali, mas “ali” era ela.
Era ela o escuro, era ela o choro, era ela a solidão...
Era ela descascando a razão... e descobrindo a razão de sua tristeza.

domingo, 10 de outubro de 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Do diálogo com a geladeira

Há tempos minhas madrugadas abrem parênteses para meus monólogos com a geladeira, ou quase um diálogo, visto que, loucura ou não, juro que obtenho respostas desse objeto-grande-branco que reside em minha cozinha.

Levanto e como num encontro marcado, vou ainda com os olhos fechados ate a geladeira.
Abro a porta e a luz que emana me avisa que é preferível abrir os olhos.
Verifico seu conteúdo, tudo anatomicamente organizado, em seus devidos lugares (que inveja! Meus conteúdos estão quase sempre deslocados).
A caixa de leite aguardando para ser aberta, o que já me faz refletir que talvez o leite seja um dos alimentos mais antigos, porem nunca inventaram um recipiente propicio para tal. A caixinha é bonitinha, encaixa perfeitamente na prateleira, mas por que eu sempre derramo o leite fora do copo? A embalagem as vezes engana tanto!
Na prateleira de cima encontram-se os condimentos: ktchups, mostarda, maionese, um pedaço ínfimo de tomate, OPA, tomate? Pra que guardar um pedacinho ridículo de tomate? Tomate guardado tem sua função, ainda mais os pequenos-que-nunca-seräo-utilizados: de certa forma ele é responsável em nos lembrar que o tempo passa. Primeiro ele vai ficando irrugadinho, as bordas vão se fechando e com o passar dos dias sua coloração altera do vermelho-tomate ao amarelo-verde-qualquer-coisa.
As jarras de suco são teimosas, não sabem lidar com o desapego, tanto quanto as garrafas de coca-cola. Fica lá, eternamente, com a quantidade mínima, calculadamente deixada para não esvaziar o recipiente. Eu juro que tanto a jarra quanto a garrafa me imploram “por favor, não me beba, deixe-me aqui com esse restinho”. Eu respeito, e as compreendo. No fundo, no fundo, acho que a gente é bem raso, tem tanta coisa sem conteúdo nenhum que somos obrigados a suportar!
Os ovos! Jamais se misturam. Fico imaginando o quanto são rotulados como “superiores”. É fato que eles teem um lugarzinho privilegiado, personalizado, e olham tudo de cima, mas eles merecem! Aposto que os outros alimentos não pensam o quanto deve ter sido difícil ser arrancado do galinheiro, quentinho, sem ter conhecido os pais e colocado num lugar gelado onde todo mundo te odeia sem nem ao menos saber da sua historia.
E a bandeja de iogurtes! Sempre com os quadrigêmeos de morango, com o ovelha-negra “abacaxi” e o mais velho “salada de fruta” que contém um pouco de todos, totalmente sem personalidade. Eu começo sempre pelo de morango, a consciência pesa menos, já que ainda restarão mais três iguais. O abacaxi deixo por ultimo, gosto de saborear a vitória da sua permanência, me identifico.
E lááá no fundinho, como querendo não ser encontrado, percebo um pacotinho cheio de coisinhas pretas. Arranco-o do seu conforto, protegido atrás da exuberância do pudim gigante, aquele acúmulo de uvas-passas (complexadas, escondidas pela beleza do pudim de leite condensado), mas minha boca enche de desejo (pelas uvas, não pelo pudim).
Pego o pacotinho. Pela ausência de olfato adquiri a mania quase mecânica de averiguar o prazo de validade. A aparência estava ótima, mas aparências enganam, é melhor eu me certificar quanto a validade (o mundo ta cheio de coisa linda que não presta).
Decepciono-me. Engulo meu desejo, o prazo de validade venceu. (e eu perdi)
Jogo meu desejo no lixo junto com as uvas-passas.
Pois é, a gente tem que saborear enquanto ta dentro do prazo, depois meu bem, não adianta reclamar, porque é fato: TUDO TEM SEU PRAZO DE VALIDADE.
Fui dormir, morrendo de vontade de uva-passa.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

da falta

Nao sei se é mera ilusão, ou um pouco de explicação para amenizar o que nao se explica, mas acho que te alcancei tanto que acabei te ultrapassando.
Vi tuas amarras, dispensei as minhas, mas tambem tenho medo.
TEnho medo do que me prende a voce tanto quanto do que nos separa.
Mas nao existe fuga. O controle que resta é nada comparado as sobras da tua falta.
Nao sei mais onde colocar tuas ausências, elas transbordam, nao cabem mais.
não sei mais onde eu estou nesse labirinto, nao sei voltar, nao sei chegar, nao sei...
Eu nao sei mais chegar perto de você sem me ver ao teu lado.
Eu nao sei mais perambular dentro de mim tateando alguma expectativa, mas o desapego é tão dificil quanto a volta.
eu nao sei mais absolutamente nada.
nunca soube. só senti, como sinto.
sinto muito, mas nao consigo me entregar entre aspas.
fui intensa, de encontro a todas as nossas gigantescas diferenças e descobri o prazer pulsante do avesso, da falta de respostas e pressupostos.
só que nossos passos nos levaram ao impasse.
Voce me disse adeus, mas por que teus olhos enterravam toda a palavra?
Nos perdemos.
mas perda também é caminho...
fugir é prisão.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Adélia. [conto premiado em Portugal]


Nasceu prematura, Adélia. A última dos irmãos. Conheceu o pai através da memória da mãe e das medalhas que recebeu como herança deste combatente de guerra que dera-lhe a vida, cujo sonho era ver a filha casada com um general.
Adélia perdeu a mãe para a bebida e a virgindade para os irmãos, os quais transformavam os momentos dentro de casa como uma batalha a ser vencida por Adélia todos os dias, mas ela sempre perdia, e coagida, vivia nesta inércia, tentando preservar sua vida pelo troco do próprio silêncio. A culpa era sua companheira, o espelho que retratava sua beleza genuína também refletia sua angustia em sentir-se culpada pelo estupro recorrente de seu corpo, da sua alma, da sua vida. Adélia via sua beleza como uma arma apontada a si, como uma inimiga sem escrúpulos.
Apesar de sentir-se presa a uma vida de dor e abusos, havia um único momento em seu dia em que Adélia se sentia tocada por aquilo que acreditava ser felicidade, quando o relógio da repartição em que trabalhava marcava doze horas... seu coração desobedecia qualquer ritmo, todos seus sentidos por demasiado sentir quase anestesiavam-se, as pupilas ditalavam-se, porque mais do que enxergar, Adélia queria alcançar aquela que fizera parte dos seus mais sublimes sonhos: a única pessoa a quem Adélia dispensava consideração ou para quem preocupava-se em se tornar uma pessoa melhor. Era o único amor de Adélia, quieto e majestoso, sentimento desprovido de dor (talvez o único) em que ela se felicitava ao sentir à flor da pele os póros dizendo-lhe que toda a descarga do corpo era o aviso que havia vida dentro de si. E a vida de Adélia tinha nome: Anita!
Aquele seria um dia especial para Adélia, era o momento em que sabia ela estar prestes a se entregar às suas duas prisões: uma delas seu amor a Anita, do qual jamais queria livrar-se, a outra ainda estava por vir, e não havia como escapar.

Foi então que as palavras de Adélia ganharam espaço sobre a mesa de Anita, num pedaço de papel que certamente seria encontrado mais tarde : “hoje não há um só pedacinho em mim que dê lugar a qualquer outra coisa senão a você. Você que é linda, é de-fi-ni-ti-va-men-te a mulher mais linda do mundo, não só do meu mundo que é pequeno, mas é do mundo todo, de todos os mundos que existem. Você deixa o oceano parecendo uma poça e consegue fazer-me grande. Quando entra na repartição e pede que eu a ensine qualquer coisa, me sinto como se estivéssemos em lua-de-mel, não importa se és comprometida com alguém, pra mim você é minha. E será minha ate o ultimo dia da minha vida, porque o primeiro foi você quem me deu. Desculpe-me se pareço inconveniente, mas essa foi a oportunidade que encontrei de toca-la com o meu amor, ainda que ele exista somente em mim, é grande o suficiente para nos amamentar. Mesmo que meus passos incertos me levem para muito longe de ti, saibas que estarei sempre contigo, talvez em silencio, mas sempre te amando, desde sempre.

Sua Adélia”.

Fechou a porta e seguiu seu destino, ganhando o caminho da rua, sentindo-se livre indo em direção a sua segunda prisão.

Adélia sempre soube que o céu é o lugar dos bons, e o inferno, dos homens. Nunca se sentiu verdadeiramente nada, nem bom, nem homem, apenas inquestionavelmente apaixonada, a vida dera-lhe apenas esse único direito e seus olhos não desperdiçaram um só segundo a mirar qualquer outra coisa senão Ela. ANITA estava lá. Totalmente lá, inenarravelmente linda, sobre o salto alto que a engrandecia ainda mais. Adelia, procurando conter-se atras daquelas grades, sentiu-se genuinamente um bicho, com sede da preza, mirando-a cautelosamente sem menosprezar nenhum detalhe. Que barulho delicado vinha daqueles sapatos. Cada passo era um orgasmo, cada batimento era um tiro em todas as desilusões, porque nada mais importava. Adélia estava atenta, estática como uma montanha (não como uma pedra), ao segundo momento de sua vida onde sentiu-se descaradamente livre. Não importava mais as circunstancias que a levaram àquele calabouço, vivera toda a vida em um, e sabia que era ali onde passaria o resto dos seus dias. Por toda a vida teve âncoras nos pés, mas agora, sentada sobre nuvens, permitiu-se amar e ser amada. Um filme passou pela sua cabeça. Para a sociedade era ela a antagonista, a “sem a mínima compaixão pelos irmãos” como dera na manchete. Adelia com tiros certeiros matou todo seu passado, ganhou a guerra, teve mais sorte que o pai. Para a tranquilidade dos civis engravatados, cumpriu-se o dever, prenderam a fera, fez-se justiça. E fez-se mesmo, para Adelia com direito a duas balas, assim ela rebatia. Seu presente não poderia ter sido melhor. A vida que outrora tirara-lhe qualquer pedaço de vida, agora dava-lhe o troféu. Era Ela. O essencial vindo em sua direção, do pedestal ao chão. As grades não impediram, nada impediu. Aquele foi o silencio mais ensurdecedor, o abraço mais raro, o beijo mais cúmplice, o único amor de Adelia. E bastou, ela não precisava de mais nada.

Eu cumi minha vó - por a.martinelli



“O calor do sertão desmiola o homem”, isso foi o que disse meu vô inté sumir no mundo, e me alembro que no dia de seu desaparecimento caiu uma chuva que ninguém via há um punhado de tempo. E meu vô tava certo, o bicho homem tem de ser muito mai bicho que homem lá no sertão. Vivi dezoito anos naquela terra de ninguém, comeno farinha com alguma coisa que vez ou outra a mãe conseguia achar por aquelas estradas de terra e solidão. A casinha nossa era pequena e nem precisava de tamanho, a família era tão mirrada que em qualquer lugar que punhasse rede a gente se ajeitava, e era só eu, mãe, vó e Tiquinha, a caçula que vingou, além de mim. Meu vô num conta porque sumiu logo no galope do cavalo, que inté hoje não se sabe como ele conseguiu o diacho do quatro pata, e tenho comigo que se fosse um homem digno, tinha de matado o coitado do bicho pra mata a fome da família. Mas a família continuou com fome, não cabe a gente mai julgá a cabeça do homem, o sertão tem dessas coisa, onde se mata por um teco de mandioca ou quando o Bicho deserda a família a vai simbora, assim como fez o vô e também o pai, que de herança deixou o casebre que, como dizia a mãe, foi erguido com o suor do pai do vô, que esse sim, foi cabra pra ninguém aponta o dedo. E no meio desses abandono, de homem mesmo só sobrou eu, que despois da morte da mãe, pra não fazer diferente do vô e do pai, também deixei a indecência do sertão lá memo no sertão. Me despachei de estrada em estrada inté chegar nessa cidade, donde acabei por me separar da Tiquinha, que veio mais eu, inté encontrar outro cabra que lhe desse mai do que cumê além de farinha. Do dia que sai de lá inté hoje, sei que passou muito verão, e às vezes quando paro e fico quietinho, ainda percebo que a gente pode inté sair do sertão, mai continua meio desmiolado. Porque é certo que a vida que se vive lá é bem muito mai difícil de esquecer, inté porque o corpo num deixa a gente esquece e a cabeça também não. Daí que quando eu to assim quietinho e alembro das coisa que fui veno quando eu crescia é que dá um aperto no peito, mai como já disse, que lá ninguém pode julgá ninguém, nem Deus, porque ele leva a gente pra lá e despois se esquece. O senhor me perdoe, seu moço, eu truxe comigo a força do sertanejo, mai vou lhe contar um segredo, que no calor daquele silêncio que só no sertão se encontra, o sertanejo também chora, e chora quando sai de lá também, quando consegue sair, porque quer saber bem da verdade, a gente pode inté sair do sertão, mai o sertão não sai da gente. E dizem que as coisa que acuntece no sertão fica no sertão, mai num é bem assim que as coisa funciona, porque cada vez que sento diante de um prato de comida, não importa se ta quente ou fria, inté hoje me alembro do dia que cumi a minha vó. E se digo isso num é de jeito nenhum porque esse fazer me deu algum orgulho, mai foi por pedido do corpo memo, e nem fui só eu que cumi, mãe mai tiquinha também cumeram. Num tinha o que faze, seu moço, a fome era maior do que todo o calor do sertão junto. A vó tava lá, sentada que nem se mexia, e a tiquinha enchia o cabelo da véia de nó que ela nem reclamava, se bem que lá no sertão a gente já tem custume de num reclamar porque senão parece que a vida desanda mai ainda. E a vó num ligava, tiquinha tinha essa mania de fazer nó no cabelo dos outro, que chegava inté a irrita a gente, mai dava dó, depois que a bichinha descobriu que o cabelo dava mai nó que o fiapo de uma espiga que apareceu lá, aí que a danada se encantou com a atividade, inte esqueceu a espiga. E nesse dia tiquinha fez tanto nó no cabelo da vó que inté eu já tava que ficando avechado que a mardita da brincadeira num cessava. Foi quando a mãe, lá pelo finarzinho da tarde, que sorto o único palavriado do dia: “Tiquinha! “ , e num falô mai nada, e nem precisava, porque lá no sertão a gente aprende fazeno mai do que falano, e tiquinha já tinha aprendido que bastava vim seu nome da boca da mãe de maneira desgostosa que a danada já entendia que a mãe não tava de aprovação. E foi quando que a bichinha com medo de levar um solavanco, saiu correno pra modo de não deixa que a mãe lhe aplicasse o corretivo doído. E foi, seu moço, que nessa saída ligeira da menina, que o nó do cabelo da vó grufunhô no dedo da bichinha, que o toco virou derrubano a vó no chão rachado. O diacho da menina olhou no meu olho com o pedido de socorro porque sabia que dali em diante o corretivo ia ser pior, primeiro por causa dos nó, despois por tentar fugir da mãe e despois pela provocação no derrubamento da vó. Inte eu fiquei com medo, quando senti por de tras de mim o passo firme da mãe com o barulho da varinha que a mãe trazia pra isquentá a bunda da tiquinha, e quando foi minha surpresa quando a mãe pegou a varinha e cutucou a vó porque ela ainda continuava sem se mexer. O olhar da mãe nunca mais que vou me esquece, olhou pra mim e despois olhou pra tiquinha, despois olhou pra cima, inté hoje num sei se pra pedi perdão ou acertá de uma vez as conta com Deus. Eu sei, seu moço, que a mãe largou a varinha, pegou a vó no colo e me mandou acender uma fugueira. Levou a vó lá pra tras do casebre e mandou a gente se deita que o sol tinha se ido. Eu e tiquinha entramo na casa sem fazer questionamento. Acho inte que tiquinha dormiu aliviada porque não apanhou nadica, mai eu fui dormir cabrero pensando no que a mãe ia faze com a fugueira. Veio o outro dia, o calor derretante desde cedinho avisava que seria mai um dia sem chuva. Mai aquele dia foi diferente, porque a farinha veio acompanhada dum tiquinho de carne. E eu inte pensei se era a vó, mai fiz de conta que num pensei pra não causá desavença com a mãe. A tiquinha perguntou da vó, mas já tava tão acostumada com o silêncio da mãe que nem se avechou com a falta de resposta. Eu sei, seu moço, que comemo carne por uns dia, mai também não durou muito de modo que a vó já tava mai pra osso do que pra carne, mai melhor assim também, cê já pensou se a vó fosse taluda? E nois ia fica cumeno por muito mais tempo, capaiz que daí Deus num perdoasse eu mais a mãe, a tiquinha acho que deus perdoava de quarqué jeito. E quem sou eu pra dizer se a mãe agiu certeiro? Já falei que no sertão num tem julgamento. E ó, que agora que lhe conto essa desgraça de vida, tenho comigo um pensamento que nunca tinha pensado, que talvez Deus inté se alembre da gente quando tá no sertão, e que se num se alembra o tempo todo é porque anda ocupado por demais com o povo da cidade, porque se num lembrasse nunca, num tinha permitido o fugimento do vô... Por que cê já pensou, moço, se o vô tivesse ficado no sertão? ele tinha de ter comido a própria muié e por vários dia, num é memo? E eu acho que Deus inté que perdoa eu, a tiquinha e a mãe, mai num perdoava o vô. .
Mai vamo simbora, que quando chove assim, inda mai despois do expediente, é que gosto de ficar quietinho, deitá no chão de asfarto e abrir a boca de modo que os pingo caia dentro, como era rezado por mim, lá no sertão, memo na farta de Deus.

domingo, 12 de setembro de 2010

naufrágio

Tava lá, incognito, quase inescrupuloso.
Era quase maior que ela. Não  a sustentava, tão pouco a felicitava, porque era tanto sentir que o excesso quase a anulava.
Nada o descrevia, nao precisava, nao era sua função ser ouvido.
Foi bom enquanto era amor, mas depois cresceu mais, as raízes obstruiram caminhos, impediram novos encontros, estar junto parecia inviavel tanto quanto se estar longe.
A briga permanente era consigo. nao sabia mais como preencher os vazios que ficaram pelo caminho. sentia falta do outro par de chinelos, do olhar invasor, do sexo cansado, do silencio que antecede o ócio, tudo ficaria em paz depois. mas nao ficou.
Eram íntimas demais para nao se salvarem.
o amor coagulou, mas tantas outras coisas ficaram em suas costas que o peso fez-se algema e a distancia foi apenas o tempo brincando de esquecer.
nao esqueceu.
deu alguns passos, desperdiçou amores, mastigou solidão.
porque ela teve coragem pra tudo na vida, menos para esquecê-la.

domingo, 5 de setembro de 2010

epitáfio

E foi bem lá no fundo de si que chegou a mais reluzente conclusão: "se eu me deixar abalar pelo teu desprezo, serão duas pessoas me desprezando".
Acendeu o cigarro, deu dois tragos e sentiu nos ombros o peso da paz.
Viveu o desgosto, a dúvida "ou eu me esqueço ou te esqueço", não conseguiria mais ama-la e amar a si. Anulou-a. Mutilou o amor e optou por si.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Prece

Aquilo parecia dor.
O riso era de desespero. Cortava a vida em pedaços e percebeu que nunca saboreou nada.
Banalizava o amor porque nao queria carregar o peso da entrega. Dispunha de armas e as vezes as usava contra si. Era demasiado humano, mas enjaulado, como quase todo humano.
Aquilo parecia dor. mas não chorava.
A lágrima poderia arranhar o vidro da sua frieza.
Era tão desprotegido que já nem sentia mais medo de nada.
Fechou os olhos e fez uma prece.
Ajoelhou-se sob sua máscara e implorou misericórdia pro destino.
Parecia dor, mas era de fato, amor.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

o diabo de cada um - por aline martinelli

Descia a ladeira assoviando como quem despeja no ar todo o peso de ser quem era.
Era, não é mais. Cansou daquilo.
Acordou disposto ou devidamente revolto, seu álibi era a sua infelicidade.
Cuspiu antes e depois do café com gosto de ontem.
Não queria mais tempos idos.
Dispensou conselhos, desanalisou possibilidades, arrancou o insulfilme dos olhos, tirou o mofo das incertezas e foi ser qualquer outra coisa que não aquilo.
A total falta de importancia até mesmo a si, lhe deu o solavanco para a subida ou a descida, sabe-se lá, não importa.
Andou.
Não foi pragmático, nem esperançoso, apenas liberto.
A total falta de amor proprio ou alheio o fez  absolutamente livre.
O amor questiona, a dor oprime, a felicidade dá trabalho, entao despediu-se de tudo ou nada. Nao tinha sabor, não tinha do que se esquecer, não tinha tecla de pause, nada tinha movimento.
criou o seu andar, fez o seu passo, arranhou o seu tempo, brincou de Deus, e encontrou o diabo, no espelho.
riu, gargalhou, disse meia dúzia de palavrões e desceu a ladeira assoviando.
Assoviava com graça 'a desgraça. Nao acreditava mais na descrença que quase o fez jazida.
No caminho, apertou a mão de mais um diabo e praguejou: "me aguarde roendo as unhas".

quarta-feira, 21 de julho de 2010

do colo ao colapso

transito pelo teu colo como um menor abandonado, nao procurando abrigo, mas buscando matar a minha fome.
o desejo me mata e eu o mato no teu corpo.
é a simbiose que descongela o pudor, é o principio ativo do meu gozo, é a rendição por absoluta vontade, é desfragmentar o sentido da palavra falada DESEJO, porque tudo parece imediato, sem suposições, com paixão, mas sem compaixão. o meu sexo no teu corpo desrespeita regras, anula convenções, nao disfarça interesses, divulga intenções, massacra expectativas porque a resposta a cada toque ultrapassa qualquer pressuposto.
nao interessa os nós de nós, ali qualquer nó é desatado.
quero teus seios apertando minhas mãos.
quero teus gemidos ditando caminhos, como eco.
quero ouvir o apelo das minhas mãos, e ter como resposta o tremor das tuas pernas.
quero vasculhar cada parte do teu corpo e te buscar inteira.
quero o colapso que me revira, revigora, agora.

terça-feira, 20 de julho de 2010

no escuro.

Era um quarto escuro.
Tentava enxergar com as mãos, mas o breu me enrijecia, a única certeza que tinha era de que o próximo passo poderia me levar para qualquer lugar.
Ficar parada me “panificava, a sensação latejante de que o teto poderia vir abaixo me angustiava concomitante à falta de resposta.
Andar em círculos me cansava, mas foi a saída paliativa.
As idéias estavam provavelmente ao lado de fora, mas elas tinham que partir de dentro.
Tateava à procura de luz, mas meu silencio sangrava e me servia mais de ancora do que de bússola, porque ele não dizia nada (ou tudo?).
De que adianta o grito do silencio quando os ouvidos estão fechados?
Então eu só sentia e talvez daí viesse a resposta.
Qual resposta?
Então era tão escuro que a claustrofobia tomou conta.
Mas ainda prefiro perder o ar sob mim do que trafegar à margem da sombra dos outros.
Ali não havia sombra, nem a minha.
Eu não estava só, mas era apenas a minha respiração, só o meu coração que batia.
Perdia a noção de tempo, de espaço, de realidade...
Mas nada é tão claustrofobico quanto a realidade.
Perdida, me achei: o escuro era eu.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

silêncio

é o grito temido da voz: silencio.
é o silencio que esclarece o que o sonoro nao alcança. talvez por medo, ou refugio, a voz fica presa, contundida. Palavras muitas vezes mascaram a essência.
então nos calemos.
é no silencio que o toque é compreendido. a palavra oculta transcende seu significado, ultrapassa qualquer função, vira apenas sentir.
sentir, no silencio, a eternidade do teu cheiro, a singularidade do seu toque, a permissão dos teus sentidos.
eu quero de fato aquilo que voce nao diz. quero o que te aflige. quero o que te amedronta. quero teus anseios esquecidos. quero teu ego fragil vestido de gigante. quero aquilo que voce pensa enquanto dura teu cigarro na solidão do teu quarto. quero me perder no nosso silêncio pra poder te encontrar.
e é assim, na eloquencia do teu silencio que eu te alcanço, que eu te ouço, é
onde teus pedaços se juntam, te deixam livre de ti, sem algemas.
eu quero o teu grito, dentro do mais ensurdecedor silêncio.

terça-feira, 22 de junho de 2010

a total falta de inspiração, me inspira.
escrevo como quem vomita, me limpo.
hoje é dia de limpeza, quero o pó. quero os cacos.
quantos simulacros adquiridos ate chegar no original?
que vá a merda essa cultura ditadora, a inércia permanente, o café preto as 7:10 hrs, o calendário injusto, a carência dominical, o sorriso falso, o espaço entre o abraço, as mesmas falas.
hoje prefiro o silencio. o sexo sozinha, o gozo descompromissado. desfragmentar os pensamentos anexados ao ritual. o grito, nao a oração. a pele pela pele, que se dane o arrepio. preciso de um sonho...ou de uma lupa.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Do Beijo

Não há entrega maior que o beijo.
Uma entrega de si para si, quando permitimos que a fantasia ate então velada, nos invada.
Usamos descaradamente o outro e somos usados, numa troca justa, onde todos viramos passaporte.
E um dia me perguntaram: o que é um beijo compatível?
É justamente quando a outra me conecta com as minhas próprias fantasias, e eu sou também ponte para as suas.
É o momento ímpar em que eu me alcanço, me desmancho, sou tantas quantas tenho coragem de ser, e a coragem é fácil neste momento...de olhos fechados me vejo melhor.
Nos invadimos de nós, secretamente nos emprestamos.
Nos revelamos a nós mesmo...beijando outra boca percebo que ando de mãos dadas comigo, me encontro, te abuso dentro de um egoísmo aceitável, porque abusas de mim também.

E que seja sempre assim, visto que beijo sem abuso não é beijo, é covardia.



sexta-feira, 11 de junho de 2010

então...tem-se o fim...

Ultimamente tenho ouvido historias de relacionamentos que findaram.
Será uma tendëncia do século XXI? : individualidade perpetuada, a solidäo amenizada por contatos virtuais, o ego massageado simplesmente com o comentário “gostei do seu perfil”, o estado civil alternado a cada 15 dias no profile solteiro/namorando...

Até as “sapinhas” que sempre foram vistas como casamenteiras ou, como eu prefiro apimentar pra não perder a piada: “Sapas Avatar”-vivem grudadas e conectadas!, até elas estão abrindo mão de namoricos para se jogarem no “Fanstastico Mundo de quem Beija mais na Boca”.

Diga-se de passagem que eu não vou perder o meu tempo apontando o meu MAGNIFICO dedo na cara de ninguém pra dizer se isso está certo ou errado, apenas observo, as conclusões são genuinamente subjetivas e a minha por enquanto é não concluir nada, apenas observo, sem julgar ou impor qualquer decreto, até porque o ser humano é carregado de fases e cada um com o seu cada qual.
Mas, o fim é sempre chato. As historias que me chegam são até parecidas, os lamentos se assemelham, as mirabolantes hipóteses do porquë que acabou.
Não parece, mas é simples assim: “é só o fim, já passou o que mais importava”(Cynthia Verri).
E o que mais importava não se atribui ao tempo que durou. Pode ser uma semana ou cinco anos, a dor é voraz, mas o que importa é que em determinado momento da vida nós nos conectamos com o outro(a). E, a partir do momento em que nossos olhares se cruzam, nossa saliva se mistura, nosso dia fica doidamente mais feliz porque ela mandou um torpedo às 5 da manhä “to pensando em você” e na mesma proporção o dia acaba quando ela não torpeia perguntando se a gripe melhorou, e quando o ciúme rompe teu ego, a angustia da ausência faz o domingo durar 45 horas e o Faustão consegue ficar um milhão de vezes mais irritante, e o sexo vira uma completude (e cria-se uma verdade universal de que ela e somente ela vai me satisfazer daquele jeito e o que vai ser de mim quando tudo acabar???) afff, lá vem o drama!...a gente já entra no balaio da paixão pensando em como será o fim. Quem será que vai entrar com a linda bunda e quem será a bruxa ordinária que vai meter o coturno???

Gentemmm, a vida é perda. Lidamos com perda todos os dias, a manha de hoje eu já perdi. Passou.

O fato de sabermos que aquela pessoa tão perfeitinha-única-cheirosa-limpinha, não vai ficar com a gente o resto da vida, não significa que teremos relacionamentos superficiais ou nos suicidarmos cada vez que uma historia finda.

Viva e se entregue. Dure o que durar.

E quando acabar, provavelmente você vai enfrentar um vazio momentâneo (se durar mais de 24 hrs procure um terapeuta), sua rotina vai ficar que nem programa da Sonia Abraão, totalmente inútil-sem-graça-com-conselhos-idiotas, mas ainda assim te digo: Se joga! Depois a gente vë o que faz, se bater uma dor insuportável, chore, tome um porre, pare de olhar o desespero pela fechadura, meta o pé e se desespere se necessário.
A dor tem a sua funcionalidade, ela nos dá o direito de irmos em busca de nós. A revolta concomitante nos tira um pouco dessa categoria chaterrima de seres “normais”, é o nosso passaporte para o grito, o descobrimento, porque todo fim é sempre uma semente... e atrás dele vem todo um novo começo!

Carpe diem, my dear, porque eu to mandando.







terça-feira, 8 de junho de 2010

Pensamento da terça

Quando queres realmente algo vai lá e deixa a marca da tua unha ou dos teus dentes.
Cata tua vida pelo colarinho, olhe-a nos olhos e berre: "daqui pra frente eu que mando"

carpe diem, bunita.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Por que?

Por que a gente no fundo, no fundo, é tão raso?

Por que a gente tem medo do amor, se era ele quem deveria ter medo da gente?

Por que os azulejos mudam de cor quando penso em você?

Por que eu nao me basto?

Por que eu nao me absolvo?

e enfim... o mais importante: por que o avião nao é feito do mesmo material que a caixa preta, uma vez que ela é indestrutível???

carpe diem, antes q ele acabe

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Depois de você...

Depois de você, pra onde será que eu fui?
Restaram-me apenas alguns sentidos, mas não quero o que resta, prefiro o que sobra.
Quero minha razão de volta, mesmo que por muitas vezes ela nocauteia minha loucura, tira de mim a possibilidade anestésica que a insensatez propaga.
Não quero mais essa falência de mim, quando  tudo e apenas o que tenho é a lembrança de um beijo.
Não temos uma história, não nos dizemos "bom dia", não dividimos afetos, mas trocamos fragmentos de nós. E cada um é uma ilha, mas nos alcançamos por um único momento, e como quem mata a sede, te beijei.
O desejo me dilacerou, me tirou de mim, corrompeu qualquer possibilidade de raciocínio voluntário.
Eu me rendi.
Eu me perdi.
Eu ultrapassei a lógica, agarrei o extase com as mãos, permiti o passeio avassalador do desejo por todos os meus póros.
Desse momento em diante, tenho sentido falta de mim, e a certeza de quere-la de novo é absurdamente voraz e faminta, tanto quanto o medo mortífero de te-la.
Ajoelho em minha fraqueza, a minha prece ainda é confusa, incompreensível, porque a tua estrada não permite outras pegadas, além das suas. Não sei se estou sendo covarde ou heroína, tentando esquecer essa minha vontade de te aprender, te beber, te consumir, porque sei que no nosso abraço vai ficar um vão.
Minha redençao agora me permite ouvir esse silencio eloquente de que quero você inteira e assim...um pouco mais de mim de volta.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

cotidiano

O mundo cansa.
O despertador te lembra que o sistema te chama.
No caminho você se permite ir mais devagar, é o máximo de subversão que a rotina vai ter permitir.
Então atrase.
Consegui! Aquele semáforo que sempre me segura, hoje estava verde (ponto pra mim), algo me diz que estou fora do tempo.
Ando mais dois quilômetros (cadê a vó que leva o neto pra escola?), será que o menino impecavelmente uniformizado está febril? Será que o cachorro dele fugiu? Será que a vó dele morreu? ou será que eles ja atravessaram a rua e eu realmente estou fora do tempo?
Ando mais um pouco, a moto dá indícios de que eu esqueci alguma coisa...(gasolina?)
Yessssssss, eu esqueci de abastecer naquele posto, cujo frentista nunca falta (nem eu), e sempre a mesma pergunta, com a mesma voz de locutor de rádio AM: "pode abastecer"?
"sim", eu respondo, quando tenho vontade de gritar: Nao, por favor, nao abasteça, eu estou aqui 'as 7:30 da manhã, ao lado dessa bomba de gasolina porque eu nao tenho mais nada pra fazer da minha vida! (perguntas idiotas merecem respostas cretinas, porém faço o exercício diário, sobre-humano, de lembrar que o bom senso ainda é uma das formas de se manter a paz mundial.
Lembrar do frentista com cara de Wood Alen naquele momento me fez rir (será que ele sentiu minha falta?), eu, ao menos naquele instante estava sentindo muito a falta dele, mas aproveitei a cartáse do dia pra acender um cigarro. Ajustada a moto devidamente 'a calçada, sentei e fumei.
Interessante situação. O cigarro faz bem 'a saúde em determinadas situações, ele incentiva a gente a ligar o "foda-se". Foi o que eu fiz.
O meu foda-se ja  tava  acionado (lembra que eu ja saí de casa com a intenção de ir mais devagar?) só nao imaginava que eu tivesse essa força de persuasão!
ficamos lá, eu, meu cigarro, minha moto, quando fomos surpreendidos por uma bomba de álcool (mas eu precisava de gasolina! yesss, tava realmente tudo saindo fora da rotina), a bomba de álcool falava, ou tentava, com a boca desprovida de dentes, o que dificultava ainda mais minha compreensão, além do dialeto-genuíno-de-um-bêbado.
Passado alguns minutos, captei vossa menssagem: "Tá cum pobrema, fia?"
respndi: "Acabou a gasolina da minha moto" (tá, eu tive vontade de mandar o bom senso 'a merda: "Nao, senhor, eu gosto de parar a moto no meio fio, acender um cigarro, ficar contando quantos pássaros defecam sobre a minha cabeça. Depois que o décimo passarinho acertar o alvo, eu levanto e vou embora!"), mas é claro, me contive.
O dialeto se complicava ao passo que o senhor se movimentava pra chegar mais perto. Sentou-se ao meu lado: "fia, ocê pode mi fazê o favô de mi dá um cigarro?"
Achei o senhor tão educadinho, ele foi educado e objetivo, admiro pessoas pontuais.
Mas eu estava a fim de realmente  me atrasar - SUBVERSÃO TOTAL, e resolvi puxar papo com o tiozinho-bêbado-com-cara-de-chicoanysio, e mandei bala: "Só te dou um cigarro se o senhor me emprestar o celular"
O velho pensou por alguns segundos (eu pensei, esse é dos meus, ele vai me mandar a merda, "cê acha que um pobre coitado que nem eu tenho esse tal de celular? enfia seu cigarro no cú"), mas o fôlego que ele buscou foi para se movimentar lentamente, até porque ele se equilibrava entre a sargeta e a rua, e levantando levemente a nádega direita puxou alguma coisa do bolso: "toma, fia, pode usá, mai tá sem crédito", e me entregou o celularzinho depois de limpá-lo com o pedaço de camiseta, ou o que um dia foi uma camiseta.
choquei.
Liguei pra porra do chefe pedindo que alguem me levasse um pouco de gasolina.
Levantei, dei o maço de cigarro inteiro (por que a gente nao esquece de comprar cigarro, mas esquece de colocar gasolina?), tirei meu agasalho e vesti o velho.
a minha subversão acabou ali. o atraso foi explicado. a gasolina chegou. o dia estava só começando.
o cotidiano é uma merda, mas quando a gente se permite sair fora tempo, adquirimos essas pérolas diárias, além dos "descarregos dos passarinhos com piriri", mas isso é outra história.


Carpe diem, é o que nos resta, ou o que sobra.

me mostre

Me mostre teus livros e eu te direi quem és...
Me mostre teus amigos  e eu te direi o quanto sorri...
Me mostre seus óculos e eu te direi do que você se esconde...
Me mostre seus chapéus e eu te direi se és do dia ou é a noite que te pertence...
Me mostre as coisas que te fizeram chorar e eu te direi o tamanho da tua força...
Me mostre suas vozes escondidas e eu te direi como ouvir os teus silêncios...
Me mostre seu passado para que eu diga onde nasceu sua revolta...
Me mostre como dorme para que eu diga se precisa de colo...
Me mostre teus sofrimentos para que eu te diga como lapidar sua sensibilidade...
Me mostre um lugar onde não haja dor, e eu irei com você...
Me mostre seus defeitos para que eu possa beijá-los.

cacos

Um dia eu estava sentada sobre minha dor, e sob meus pés haviam cacos que estavam ali mais pelas coisas não concretizadas do que por algo que tenha se quebrado. Porque o que quebra foi intacto um dia, mas hoje eu choro mais pelos cacos que eu nao alcancei.


O que fazer com os cacos inadequados e injustos?
Pela falta de resposta, atribuo a culpa 'aquele que está mais perto, e quem mais perto de mim senao eu mesmo?
A solidão sempre dói mais quando é uma consequencia e nao uma opção, quando chego até ela pelos passos dos outros e nao pelos meus.
Entao, cansada 'a procura de alguma morfina, sento e cada lágrima é um passaporte para o vazio, me levando ao caos de ser quem sou. Tantos "eus" e nenhum se adequa, tantos aplausos e minha vontade é de cuspir na plateia, tanto poço sem posso, tanto colo sem cura, tanto medo sem escudo, tantos passos sem caminho, tanto silencio sem paz, tanta paz sem verdade, tanta verdade sem mim.

Me suicido neste momento porque percebo que os cacos sob meus pés são genuinamente meus, a força que me resta e que agora é somente minha, me leva 'a voluntaria vontade de nao querer colar mais nada de mim, porque nao quero o conserto, quero o NOVO.
Nao quero mais o cansaço da reconstrução perfeita.
Quero EU, e nao há nada mais que me conduza a isso do que os reflexos que necessariamente esses cacos me trouxeram.

sábado, 22 de maio de 2010

caos

um dia algum louco, ou alguma explosao, ou alguma juncao de alguma coisa c alguma coisa, ou duas pessoas pecaram no paraiso e, enfim, criou-se o homem.


Nao se contentaram: criaram a mulher e assim a brilhante ideia da reproducao!



Uta! resultou em 6 bilhoes de pessoas habitando o mesmo planeta.

Mas ainda assim nao se contentaram, nao bastava o corpo, a reproducao, e entao inventaram a personalidade e distribuiram-na, particularmente, p/ cada um, sem a menor chance de duas pessoas receberem a mesma.

Comecou o caos!

Mas nao se contentaram: distribuiram sentimentos q, cada um, de acordo c sua personalidade se equilibra do jeito q dah.



Bom, pra alguma parcela da humanidade deram um pouco de inteligencia , preserva-se a especime atraves dela, caso contrario metade da populacao ja teria se suicidado por n ser a Angelina jolie ou o Bill Gates.

(a outra metade, de uma forma ou de outra anda se suicidando).



e nós?

nós nos fodemos.

o céu eh apenas p os bons, e o inferno para os homens.



bom, inventaram Deus.

inventaram alguns comprimidinhos.

DESCOBRIMOS O ORGASMO!

e precisamos dos terapautas.



Carpe diem! eh o q resta...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O corpo

Naquele momento minhas mäos transpiraram como quem aperta o gatilho e vë em si o alvo.

Senti falta das muletas que um dia te emprestei e, por falta delas me fragmentei ao chäo. E assim seria nao simplesmente por respeitar a lei da gravidade, mas meu cerebro nao queria nem podia ser mais o controlador daquelas sensacoes assassinas.

Cai.

Deixei-me apenas por um momento sentir-me, e de tanto sentir, anestesiei-me.

O principio ativo de minha morfina era a propria dor.

Nao havendo e nao querendo qualquer recuperacao, precisava daquela fraqueza pra cuspir na plateia que sempre aplaude a minha força, pra mostrar pra mim que soh tem direito ao chao quem na verdade eh muito corajoso.

E, sobre cacos (os meus proprios), levantei-me como quem, perdido dentro do abismo de si, so enxerga na subida a unica possibilidade de reconstruçao.

E atirei.

Atirei como quem poupa a culpa e engatilha o odio: atirei em mim, atirei precisamente na parte certa, aquela que te sustentava.