terça-feira, 10 de agosto de 2010

o diabo de cada um - por aline martinelli

Descia a ladeira assoviando como quem despeja no ar todo o peso de ser quem era.
Era, não é mais. Cansou daquilo.
Acordou disposto ou devidamente revolto, seu álibi era a sua infelicidade.
Cuspiu antes e depois do café com gosto de ontem.
Não queria mais tempos idos.
Dispensou conselhos, desanalisou possibilidades, arrancou o insulfilme dos olhos, tirou o mofo das incertezas e foi ser qualquer outra coisa que não aquilo.
A total falta de importancia até mesmo a si, lhe deu o solavanco para a subida ou a descida, sabe-se lá, não importa.
Andou.
Não foi pragmático, nem esperançoso, apenas liberto.
A total falta de amor proprio ou alheio o fez  absolutamente livre.
O amor questiona, a dor oprime, a felicidade dá trabalho, entao despediu-se de tudo ou nada. Nao tinha sabor, não tinha do que se esquecer, não tinha tecla de pause, nada tinha movimento.
criou o seu andar, fez o seu passo, arranhou o seu tempo, brincou de Deus, e encontrou o diabo, no espelho.
riu, gargalhou, disse meia dúzia de palavrões e desceu a ladeira assoviando.
Assoviava com graça 'a desgraça. Nao acreditava mais na descrença que quase o fez jazida.
No caminho, apertou a mão de mais um diabo e praguejou: "me aguarde roendo as unhas".

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