quarta-feira, 17 de agosto de 2011

play-boi

A vida tava lá, tava sim, de alguma forma eu sentia, mas não alcançava.

Sentia pelos olhos dos outros, pelo apelo da convenção.
Sentia pelo cheiro do after shave made in italy.
Pelo desprezo ao porteiro made in Bahia.
Pelo conversível que me levava a todos os lugares...e a lugar nenhum.
Um dia adoeci, por excesso ou extrema falta de mim, acho que nunca saberei.
Adoeci pelo desejo vagabundo, pelo vestido sem etiqueta, pelo cheiro de monange de Maria Rachel.
E Maria fora a única paixão que não aceitava cartão de credito.
Tentei quase ser romântico, usava até “por favor, Maria, engome minha camisa”. Não adiantou, Maria era desprovida de dinheiro, mas entorpecida de fidelidade e se dizia honrada em ser “pobre, porém honrada”.
Não tive escolha.
Tinha que te-la. Fizemos um acordo, meu pau e eu. Eu tomaria as doses diárias de um escocês pra criar coragem e ele não falharia na hora “h”.
Naquele dia, como se soubesse o que eu planejava, estava ela absurdamente livre, o que me tornava mais preso a ela.
Seu vestido florido e surrado, o coque preso por uma bic, transpirava aquele hidratante barato que entrava em meus póros e enchia meu pau com todo sangue do meu corpo.
Peguei por trás com toda a força daquilo que nem era mais desejo e sim necessidade. Subi seu vestido e baixei a calcinha (e o pau latejava como uma inflamação), não falhou, nosso acordo estava de pé.
Tampei-lhe a boca, mas imaginava seu gemido, quando senti todo o formigamento vindo de dentro, perdi a pressão, eu estava no paraíso, eu estava VIVO quando me dei conta que estava morrendo.
O golpe foi certeiro. Atravessou o fígado.

Cai.
Maria estava linda com olhos de quem vence. Puxou a faca e deu mais sete golpes. Cada facada, um orgasmo.
Morri com sorriso no rosto.

Vi meu sangue, olhei Maria, ambos me fizeram sentir gente, ao menos uma vez.







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